quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ventania

Não me apropriei das tuas convenções,
Não desejei tua vinda na calada da noite,
Me senti desabrigada em tuas mãos.

No solstício, tua sombra penetrou, mudando a cor do céu,
Enlouquecendo a inocência de uma criança,
Arrancando suspiros e o medo de seu primeiro amor.

Tragada foi minha alma pelo desespero que me causou.
Tua ausência me incomoda e tua presença me seca os ossos.
Te procuro.
Onde estás Cielo? Onde estás imortal?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Hope

Meus soluços entre-abertos, já não são mais ouvidos à distância.
Engoli todo o medo e me prendi à correntes inquebráveis.
Longos e curtos pesadelos, sonhos raros e frágeis.
A ignorância de muitos se desperta,
E é nos buracos inabitáveis que encontro refúgio.
Sendo chamada para fora, por gritos silenciosos.
Com a esperança de um dia coexistir ilusão em um mundo surreal,
Inspirada por nossos próprios corações afastados.
Em outras vidas nos reencontramos de novo e de novo,
Reconstruindo o que não foi terminado.

Caminho

"Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora."

Lembrança de morrer

" Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
  Que o espírito enlaça à dor vivente,
  Não derramem por mim nem uma lágrima
                  Em pálpebra demente.

  E nem desfolhem na matéria impura.
  A flor do vale que adormece ao vento
  Não quero que uma nota de alegria
  Se cale por meu triste passamento.

  Eu deixo a vida como deixa o tédio
  Do deserto, o poente caminheiro
  - Como as horas de um longo pesadelo
  Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

  Como o desterro de minh'alma errante,
  Onde fogo insensato a consumia:
  Só levo uma saudade - é desses tempos
  Que amorosa ilusão embelecia.

  Só levo uma saudade - e dessas sombras
  Que eu sentia velar nas noites minhas...
  De ti, ó minha mãe! Pobre coitada
  Que por minha tristeza te definhas!

  De meu pai... de meus únicos amigos,
  Poucos - bem poucos - e que não zombavam
  Quando, em noites de febre endoidecido,
  Minhas pálidas crenças duvidavam.

  Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
  Se um suspiro nos seios treme ainda,
  É pela virgem que sonhei... que nunca
  Aos lábios me encostou a face linda!

  Só tu à mocidade sonhadora
  Do pálido poeta deste flores...
  Se viveu, foi por ti! e de esperança
  De na vida gozar de teus amores.

  Beijarei a verdade santa e nua,
  Verei cristalizar-se o sonho amigo...
  Ó minha virgem dos errantes sonhos,
  Filha do céu, eu vou amar contigo!

  Descansem o meu leito solitário
  Na floresta dos homens esquecida,
  À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
  - Foi poeta - Sonhou - e amou na vida -

  Sombras do vale, noites da montanha,
  Que minh'alma cantou e amava tanto,
  Projetei o meu corpo abandonado,
  E no silêncio derramai-lhe canto!

  Mas quando preludia ave d'alvorada
  E quando à meia noite o céu repousa,
  Arvoredos do bosque, abri os ramos...
  Deixai a lua prantear-me a lousa! "



















Dia Cinza

Minha visão enlameada, muitas vezes turva, persegue as sombras na calçada.
Sem um teto fixo, brincam brindando a vida,
E eu quieta, me comprimo mais.
Por fim, deitando no gramado, observo o formato das nebulosas tormentas.
Já não sei o que mais me aflige, o que me dói a alma.
Prossigo como fui enviada, só e servil.
Mansa para todos, melancólica para alguns.

Amor e Medo

" No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
  Ébrio e sedento na fugaz vertigem
  Vil, machucara com meu dedo impuro
  As pobres flores da grinalda virgem!

  Vampiro infame, eu sorveria em beijos
  Toda a inocência que teu lábio encerra,
  E tu serias no lascivo abraço
  Anjo enlodado nos pauis da Terra.

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  Se de ti fujo é que te adoro e muito,
  És bela - eu moço; Tens amor, eu - medo! ...."
 

domingo, 29 de julho de 2012

Confusão

Seus olhos com tons emaranhados, buscam os meus olhos que perseguem os teus gentilmente.
E de repente os aromas se misturam... Formaram um perfume delicado.
Junto com o desejo, minhas mãos envolvem as suas, que se deixam levar pelo compasso...
Sua respiração deixa a minha ofegante,
Sem destino, navego em um oceano claro.
O medo começa a desaparecer em um contorno vermelho.
E o final se completa com um beijo longo e profundo, confuso, nostálgico...
Em meio a sorrisos e olhares pesados, me despeço com a verdade ao meu lado...